No Dia da Saudade (30/1), entenda de que forma o sentimento contribui para a formação da identidade
 

Matéria

No Dia da Saudade (30/1), entenda de que forma o sentimento contribui para a formação da identidade

14 / Fevereiro / 2025

Professora de Psicologia da UniRitter, Eduarda Lima de Oliveira, explica como a saudade impacta nossas memórias e molda a personalidade

 

Um sentimento popular e involuntário, a saudade está presente no dia a dia de pessoas do mundo todo. No entanto, a palavra, curiosamente, existe apenas na língua portuguesa. Ela vai além da nostalgia e do desejo de reviver momentos passados, desempenhando um papel fundamental na construção da nossa identidade. Como explica a professora de Psicologia da UniRitter, Eduarda Lima de Oliveira, a saudade pode ser vista como uma estratégia do corpo para lidar com as experiências vividas. “Ela é uma forma de processar o que já vivemos e o que gostaríamos de reviver, algo que nos ajuda a entender nossas emoções e a fortalecer nossa identidade”, afirma a professora.

Revisitar o passado é uma prática natural que, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas um desejo de voltar ao que foi vivido, mas também uma forma de autoconhecimento. “Somos feitos das experiências que tivemos e é fundamental olhar para essas vivências”, explica.

 

O Impacto das memórias na construção da identidade

As memórias têm um papel fundamental na construção do nosso ser, pois somos, de certa forma, o reflexo das experiências que vivemos ao longo da vida. “Somos modelos do que já passamos. As memórias nos ajudam a entender quem somos no presente e, ao relembrarmos certos momentos, conseguimos enxergar melhor nosso próprio caminho”, afirma Eduarda. Cada experiência vivida, seja ela positiva ou negativa, vai moldando nossa percepção de nós mesmos e do mundo à nossa volta.

Esse processo de relembrar nos conecta ao nosso passado, permitindo que vejamos momentos que influenciam diretamente nossas escolhas no presente. Muitas dessas lembranças, inclusive, falam diretamente sobre o que estamos vivendo no momento, funcionando como um espelho para o que se está experimentando. Assim, as memórias não são apenas registros de algo que aconteceu, mas elementos vivos que continuam a interagir conosco, nos ajudando a tomar decisões e a refletir sobre a direção que estamos tomando na vida.

Contudo, a professora alerta para a importância de equilibrar a revisão das memórias. “É preciso ter cuidado para não deixar que as memórias tragam tristeza ou uma sensação de perda. O ideal é que a saudade seja encarada como um sentimento de força, de motivação, e não algo que nos paralisa”, ressalta.

 

Memórias afetivas: o que desperta esse sentimento?

A saudade é um sentimento muito particular, que se manifesta de diferentes formas em cada indivíduo. “Praticamente tudo pode despertar uma memória afetiva: um cheiro, um som, uma paisagem”, afirma a professora. Para ela, o que torna as memórias afetivas tão poderosas é a forte conexão emocional que elas carregam. Ou seja, são as emoções intensas e os vínculos que criamos ao longo da vida que tornam esses momentos tão marcantes, capazes de serem resgatados a qualquer momento por meio de um simples estímulo.

Os cinco sentidos desempenham um papel fundamental para despertar memórias. “É difícil ter memórias sem emoção”, observa. Um perfume que remete a uma infância feliz, uma música que nos transporta para um amor antigo ou uma paisagem que traz à tona momentos de tranquilidade podem reviver instantaneamente sentimentos profundos. As memórias afetivas têm o poder de nos conectar a momentos significativos da nossa vida, proporcionando tanto conforto quanto reflexões mais profundas sobre o tempo que passou. Elas são capazes de nos fazer sentir emoções intensas e, muitas vezes, nos ajudam a compreender melhor as complexidades de nossa jornada pessoal.

 

Saudade, Luto e a Relação com o Passado

A relação entre a saudade e o luto não está restrita à perda de uma pessoa, mas abrange também a perda de momentos, fases ou até mesmo ideais. “O luto é vivido de diversas formas e pode surgir quando algo que foi significativo em nossa vida deixa de existir. Isso não se aplica apenas a perdas físicas, mas também a situações que não podemos mais reviver”, explica.

Ao falar de saudade, inevitavelmente falamos também de luto, pois ambos envolvem a ausência de algo ou alguém importante. A saudade é, muitas vezes, uma expressão do luto que não se refere a uma perda imediata, mas ao reconhecimento de que algo foi deixado para trás.

No entanto, Eduarda alerta que revisitar essas memórias e sentimentos de perda pode, em certos casos, ser prejudicial. “O processo de lidar com o luto e a saudade pode ser complexo, e é essencial ter o suporte adequado para garantir que essas emoções não nos paralisem, mas que possamos, ao contrário, aprender com elas e seguir em frente de maneira saudável”, orienta.

 

Transformando a saudade em algo positivo

Para aqueles que buscam transformar a saudade em algo positivo, Eduarda sugere algumas estratégias psicológicas. “É preciso olhar para o passado de forma saudável, respeitar o tempo de cada pessoa e tirar lições dessas memórias. A saudade pode ser uma fonte de aprendizado e crescimento pessoal”, recomenda. Ao invés de ver a saudade como algo que nos limita, ela propõe que esse sentimento seja encarado como uma oportunidade para aprendizado e crescer a partir disso. As memórias que carregamos podem se tornar fontes de sabedoria, se soubermos refletir sobre elas e entender o que elas podem nos ensinar sobre nós mesmos e sobre a vida.

“O limite para viver a saudade de forma positiva é não se prender ao passado”, alerta Eduarda sobre a importância de um olhar cuidadoso. Para ela, a saudade deve ser vista como uma parte da nossa história, mas nunca como algo que nos impede de seguir em frente. “A saudade faz parte da nossa trajetória, mas não pode paralisar nossa capacidade de viver o agora”, explica. É fundamental respeitar o tempo de cada pessoa para processar suas emoções e memórias, mas sempre mantendo em mente que a vida continua.

Lidar com a saudade envolve olhar para o passado, falar sobre o que sentimos, entender e refletir sobre as experiências vividas. Ao fazer isso, podemos aceitar o que já aconteceu, aprender com isso e, assim, transformar a saudade em uma fonte de força para seguir em frente. Esse exercício de aceitar, respeitar e tirar lições das memórias nos permite construir uma relação mais saudável com o passado, ao mesmo tempo em que nos impulsiona a viver plenamente o presente e planejar o futuro.