Dezembro Verde: combate ao abandono animal começa no planejamento antes da adoção de pet
 

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Dezembro Verde: combate ao abandono animal começa no planejamento antes da adoção de pet

20 / Dezembro / 2024

Professora de Medicina Veterinária da UniRitter alerta para a importância da avaliação prévia de tempo, recursos e espaço disponíveis para animais de estimação na rotina familiar

 

Com a chegada das férias de verão, as denúncias de abandono animal em vias públicas se intensificam, reforçando a necessidade do enfrentamento dessa prática criminosa. Por isso, a campanha Dezembro Verde marca o mês da conscientização sobre a adoção e aquisição responsável de pets, combatendo o descaso com a vida animal e o aumento contínuo da população de cães e gatos que vivem nas ruas das cidades.

Neste ano, as discussões sobre proteção de animais domésticos se intensificaram com a enchente que atingiu o estado do Rio Grande do Sul em maio. Durante o desastre climático, mais de 10 mil pets foram resgatados e encaminhados para abrigos. Passados sete meses desde as inundações, ainda há cerca de 1,2 mil cães e gatos abrigados em instituições acolhedoras, de acordo com os dados oficiais do Governo do Estado do RS. Após as águas baixarem, além de reencontros de muitos animais com seus tutores, as ações de incentivo de adoção resultaram na queda da ocupação dos abrigos. Nesse período, entretanto, alguns abrigos e instituições de proteção animal registraram devoluções de pets adotados.

Esse cenário reflete a importância de adotar um pet de maneira consciente, considerando o impacto a longo prazo. “Antes de se responsabilizar por um animal, é essencial avaliar se o núcleo familiar possui tempo, recursos e espaço suficientes para garantir o bem-estar de um pet ao longo da vida, sabendo que esse é um compromisso de longo prazo, que pode durar até 20 anos, dependendo do animal”, alerta a médica veterinária Mariana Caetano Teixeira, professora do curso de Medicina Veterinária da UniRitter, explicando que o abandono de animais está diretamente ligado à falta de planejamento de tutores.

O planejamento prévio é fundamental. Antes de adotar, é necessário considerar o estilo de vida que cada espécie demanda, assim como os custos mensais com alimentação e cuidados veterinários, como vacinação ou emergências. A especialista também destaca a importância de se conhecer bem o temperamento do animal antes de levá-lo para casa. No caso de aquisição de um pet em canil, sendo esse totalmente regularizado, há uma previsibilidade de temperamento esperado de determinada raça. “Se você decide adotar um animal de um abrigo, é essencial buscar informações sobre o comportamento e a saúde do pet, o que pode ser feito por meio de um período de convivência como lar temporário. Isso ajuda a evitar frustrações no futuro e favorece a adaptação do animal à nova casa”, explica a docente.

A falta de castração também é um fator que contribui diretamente para o abandono. Na capital gaúcha, o primeiro Censo Animal, realizado pela Secretaria Municipal da Causa Animal entre julho e outubro de 2023, apontou que dos 815,4 mil cães e gatos da cidade, 20% vivem na rua ou ficam dias fora da casa do tutor. “Uma fêmea de cão ou gato não castrada pode gerar até 16 filhotes por ano, ampliando o problema da superpopulação de animais abandonados. A castração é uma medida essencial para o controle dessa situação”, explica Mariana.

A docente explica que a multiplicação acelerada de animais em situação de rua, impulsionada pelo abandono e falta de castração de cães e gatos, tende a ser um problema de saúde pública. Além da castração, a falta de vacinação em animais de rua aumenta o risco de doenças transmissíveis. “Quando animais circulam pelas cidades sem cuidados adequados, como a vacinação em dia, passam a ser potenciais vetores de doenças transmissíveis, apresentando risco para a saúde de outros indivíduos da mesma espécie e de humanos, nos casos de zoonose”, explica a médica veterinária.

 

Responsabilização

O abandono de animais é crime previsto pela Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), que dispõe de três modalidades de pena: reclusão, de 2 a 5 anos; pagamento de multa; e proibição da guarda. Em relação ao resgate de animais encontrados em vias públicas movimentadas, o ideal é acionar as autoridades responsáveis pelo trânsito, seja a Polícia Rodoviária ou órgão municipal. “No caso da capital gaúcha, o indicado é entrar em contato com a Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre (EPTC) ou com o o próprio Gabinete Municipal da Causa Animal”, orienta a docente.

Em casos de resgates feitos por pessoas comuns, é importante levar o animal o quanto antes a um médico veterinário, assumindo a responsabilidade financeira pelos cuidados necessários. “Os resgates, assim como a adoção ou a compra de um pet, devem ser feitos com responsabilidade, sendo um compromisso que exige dedicação com o bem-estar animal, e isso inclui garantir que haja atendimento adequado conforme as necessidades”, conclui Mariana.