Agosto Verde Claro: como combater a Leishmaniose e proteger pets e humanos
 

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Agosto Verde Claro: como combater a Leishmaniose e proteger pets e humanos

5 / Setembro / 2024

Professora de Medicina Veterinária da UniRitter indica estratégias de prevenção contra casos da zoonose que tem cães como principal reservatório da doença

 

Criada para conscientizar sobre os riscos e a necessidade de prevenção da Leishmaniose, a campanha Agosto Verde Claro tem como origem a lei sancionada em 2012 que instituiu a Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose. Representando um perigo para a saúde canina e humana, a doença é uma zoonose considerada endêmica na América Latina, onde 90% dos casos positivos em cães e 97% da incidência em pessoas ocorrem no Brasil. Apesar do Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizar tratamento aos cidadãos, ainda não há medicamento que elimine totalmente do organismo o parasita causador da Leishmaniose. Por isso, casos em humanos devem ser evitados por meio de uso de repelentes, proteção com mosquiteiros e cuidados para não expor cães à contaminação.

Caracterizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença endêmica em 99 países, a Leishmaniose apresenta duas formas de manifestação: a cutânea, que possui maior taxa de contaminação humana, e a visceral, que apresenta maior letalidade entre animais e pessoas. A zoonose tem os cachorros como principais reservatórios, sendo importantes no ciclo de disseminação da doença, já que o mosquito vetor da Leishmaniose se infecta ao picar um animal contaminado e, assim, passa a transmitir a doença a outros pets e humanos. No combate ao contágio, a vacina contra a Leishmaniose Visceral Canina (LVC), de aplicação recomendada para cães mais expostos, atua na diminuição da circulação de mosquitos infectados, já que animais vacinados possuem menos risco de transmissão.

Por serem infectados antes das pessoas, os cães servem de sentinelas da doença, já que um caso canino alerta para a presença de contaminação e transmissores na região. É muito importante estar atento aos sinais caninos e realizar a prevenção”, indica Mariana Caetano Teixeira, professora do curso de Medicina Veterinária da UniRitter, doutora na área de diagnóstico de Leishmaniose.

A especialista alerta que os tutores dos cães devem buscar um médico veterinário em caso de sintomas como problemas de pele, lesões na região ocular, aumento de linfonodos e emagrecimento repentino. “O recomendado é realizar testagem periódica quando o animal vive em uma região de histórico da doença, já que, por ser uma zoonose, a Leishmaniose é uma doença de notificação obrigatória”, explica Mariana.

De acordo com o informativo mais recente sobre Leishmaniose Visceral desenvolvido pela Vigilância em Saúde de Porto Alegre, publicado em 2022, o município registrou 817 casos positivos em cães entre 2010 e 2021. Desde 2016, quando houve o primeiro caso humano confirmado na cidade, até 2021, foram notificados 113 casos suspeitos de Leishmaniose Visceral Humana (LVH) em Porto Alegre. A maioria dos casos são identificados em regiões próximas a áreas verdes da cidade, assim como são distribuídos globalmente em zonas de maior prevalência de matas.

 

Como questões ambientais influenciam o contágio

Fatores ambientais estão diretamente relacionados ao aumento de casos de Leishmaniose, principalmente as questões envolvendo a expansão urbana para regiões de mata. Segundo a especialista, os animais domésticos e os seres humanos passam a estar mais expostos ao viverem em áreas próximas do habitat natural do transmissor da doença.

Conhecido popularmente como mosquito-palha, os insetos vetores são do grupo de flebotomíneos e são classificados como silvestres. “A contaminação acontece por mosquitos naturais de matas tropicais, que apresentam um voo curto e são mais ativos no período do final de tarde”, esclarece Mariana, explicando que é mais fácil acontecer casos de Leishmaniose em residências construídas em locais de desmatamento de áreas verdes. “Quando a casa das pessoas está dentro da mata, aproximamos os mosquitos dos cachorros que se expõem ao ar livre, assim, fechando o ciclo de contágio da zoonose”, complementa.

 

Medidas de prevenção à Leishmaniose canina

A especialista elenca por ordem de prioridade as cinco estratégias mais importantes na prevenção de aumento dos casos de Leishmaniose em cães, que são os principais reservatórios (hospedeiros) da doença.

1) Controle por repelente: seja por uso de coleira repelente ou aplicação de pipetas que servem de antiparasitários;

2) Evitar exposição no horário de maior atividade do mosquito: é necessário evitar que o animal de estimação esteja exposto próximos a ambientes de mata no período de final de tarde, quando o inseto vetor está mais ativo;

3) Canil telado: em caso de animais de estimação que dormem fora de casa, é importante mantê-los em um espaço com telas anti mosquito;

4) Realizar testes de triagem: o ideal é realizar testes periódicos e não apenas buscar a verificação quando o cão já está com sintomas da LVC;

5) Vacina contra Leishmaniose visceral canina: a imunização não é obrigatória, mas pode ser recomendada pelo médico veterinário que identificar que o cão estará exposto a uma área de contágio.